Algumas reflexões
Segundo Flusser, possuímos uma memória genética e cultural e existe no homem uma constante busca de transmissão e principalmente preservação dessas memórias, o que contraria como se sabe a tendência a entropia (segunda lei da termodinâmica que fala da tendência dos corpos em dispersarem energia). Desse modo, os seres vivos vivem constante relação, mas culturalmente também em oposição à natureza física ou mesmo biológica. Desse modo, o homem pode ser considerado antibiológico e esse paradoxo é tema de constantes discussões.
Até então a memória genética interferia diretamente na cultural, mas o oposto não era necessariamente verdadeiro; vislumbra-se com a biotecnologia uma possibilidade de alteração dessa relação, onde a cultura pode vir a interferir no genético/biológico; isso coloca questões artísticas em novos campos. Ainda segundo Flusser, a memória genética é durável mas pouco confiável (sujeita a mutações e evoluções, o que não deixa de ser uma forma de abertura do código de informação); a memória cultural é pouco durável e pouco confiável, isto é, sujeita a esquecimento e deformação. Nisso as novas tecnologias podem representar um passo decisivo em direção ao desenvolvimento de suportes mais duráveis e mais confiáveis. Dentro dessa idéia podemos adicionar o pensamento de Stelarc quando ele diz que o corpo é obsoleto:
“ É hora de questionarmos se um corpo bípede que respira com visão binocular e um cérebro de 1400 cc é uma forma biológica adequada (...) não se trata mais de uma questão de perpetuar a espécie humana por meio da reprodução, mas de melhorar o indivíduo por meio de seu redesenho. Só após a tomada de consciência de sua obsolescência permitirá a estruturação de estratégias pós-evolutivas.” (tradução livre a partir do original em “prostetics, robotics, remote existence: postevolutionnary strategies” In: Leonardo, vol.24, n.5, 1991)
Para Stelarc, a arte passa a ser o principio básico da evolução. Dessa forma, imediatamente se coloca a pergunta sobre o que se quer dizer com arte atualmente – Stelarc coloca em discussão o futuro da arte ao colocar a “arte como o futuro.”
Fragmento da apresentação de Stelarc no evento Mutamorphosis em Praga, 2007
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