Já brinquei de ser cego por uns instantes e também sugeri a crianças e adolescentes fazerem tal experiência. Já contei história bíblica sobre o cego Bartimeu e como ilustração, citei Jane Fanny Crosby (1820 -1915) - uma norteamericana cega que expressou sempre grande alegria pela vida, cantando e compondo lindas melodias cristãs muito conhecidas e apreciadas até hoje pelos cristãos evangélicos. Bem poderia citar também aqui Ellen Keller (1880 -1968), outra norteamericana que aos dezoite meses de idade ficou cega e surda e, apesar disso, foi uma das pessoas mais brilhantes que viveu neste Planeta. Imagine uma pessoa cega e surda fazendo, com sinceridade, esta afirmação:
“Belos dias como estes, fazem o coração bater ao compasso de uma música que nenhum silêncio poderá destruir. É maravilhoso ter ouvidos e olhos na alma. Isto completa a glória de viver”.
" http://helenkeller1880.vilabol.uol.com.br/).
Brincar de ser cego, podendo abrir os olhos a qualquer instante, diante do mínimo sinal de perigo é fácil. O que realmente não é fácil é viver na total escuridão, na ausência total da luz, das cores.
Com a leitura de textos propostos num curso de Educação Especial e Atendimenteo Especializado a portadores de deficiênica ministrado pela Universidade de Uberlândia à distância, tenho meditado um pouco mais profundamente sobre a verdadeira realidade vivida pelas pessoas com baixa visão e principalmente as que sobrevivem com a cegueira total. Nós videntes, com todas as possibilidades que temos de interação com o nosso entorno, capazes de decidir com ações práticas e rápidas como nos locomover, nos comunicar através de uma grande variedade de meios e recursos, vez por outra nos atrapalhamos, erramos, cometemos acidentes e, alguns muito graves. Imagine então quem vive à mercê da quase casualidade quando tem que enfrentar um mundo arriscado, perigoso, totalmente no escuro. Para mim parece ser algo tão trágico como se eu saltasse de um avião de paraquedas e de olhos totalmente vendados - tragédia iminente.
O texto " Ver, não ver e aprender" de Adriana L. F. Laplane e Cecília G. Batista, indicado nesta unidade IV do citado curso é muito sugestivo para a compreensão do processo de desenvolvimento e a aprendizagem de crianças com deficiência visual e o uso de recursos pedagógicos na educação inclusiva de pessoas cegas.
Aprendi com este texto que a deficiência visual engloba grande variedade de condições orgânicas e sensoriais e com diferentes consequências no desempenho visual do indivíduo afetado pela cegueira. Que a baixa visão pode ocorrer por traumatismos, doenças ou imperfeições no órgão ou no sistema visual.
Curioso também é que são citados alguns teóricos que afirmam ser o ambiente e fatores genéticos, que configuram de maneira única cada indivíduo, elementos considerados igualmente importantes na formação e desenvolvimento educacional de pessoas com deficiência física e visual - tal qual o que acontece com quem julgamos 'pessoas normais'. E particularmente digo, o meio ambiente em que vive uma pessoa cega é uma atmosfera que pode influenciar fortemente toda a sua formação e desenvolvimento sensorial ao se relacionar com o mundo - com a cultura de convivência e superação.
A individualidade de cada cego deve ser considerada única e exclusiva (redundância? Não. Ênfase). Jamais devemos massificar o sistema de ensino e aprendizagem. Em todos os aspectos do desenvolvimento (motricidade, cognição, linguagem, sociabilidade, personalidade, diferenças pessoais) deve-se considerar individualmente cada pessoa quando se aplica um processo de aprendizagem inclusivo para cegos. Tudo deve ser incrementado e adaptado para atender de forma especial cada pessoa, individualmente.
Me surprendi ao ler que há pesquisa que afirma que "a frequência de contato corporal entre mães de crianças com deficiência visual severa e seus bebês é menor que a frequência de contato de mães e bebês videntes" (Freedman, 1971, 1975). E também que a ausência de visão pode causar hipotonia - diminuição do tônus muscular (corpo flágido, como uma boneca de pano).
As autoras do artigo indicam o uso de recursos ópticos e adaptações especificos, bem como o uso de tecnologia (Braille por exemplo) que devem ser escolhidos com perícia técnica para se alcançar os objetivos propostos num projeto de ensino individualizado e inclusivo.
Há alguns estudos de casos que são apresentados como exemplos de recursos aplicados com diferentes respostas dos individuos em situações e ambientes semelhantes. Dá-se ênfase de que o uso do computador (informática) com programas específicos para cegos têm sido uma ferramenta muito eficiente no processo de aprendizagem de pessoas cegas.
Há algumas sugestões de adaptações de recursos pedagógicos como Jogo de Bingo, Dominó, Jogo de Tabuleiro, Elaboração de Cheques - todos com alguma forma de leitura tátil, para se conceituar idéias objetivas de valores, posicionamentos, quantidades, etc.
Ao final é reconhecido o papel do professor/orientador que, ao utilizar recursos tateáveis/visuais/auditivos em sala acessível a todos os alunos, proporciona aos seus aprendizes a sua real integração à escola e à sociedade, removendo-lhes as barreiras que os impedem de serem cidadãos de direito e de fato.
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